sábado, 15 de outubro de 2011

Dia catorze, sexta à tarde.


Saí de casa com raiva e fiz da nota de R$10 uma bolinha. O cobrador pegou-a, olhou e riu: 
- É incrível o que vocês fazem com o dinheiro.
- É a raiva. Aí a gente desconta no dinheiro.
- É, deve ser raiva mesmo. Mas não precisa descontar no dinheiro.
E ri.
E percebi que esse tipo de simpatia anda muito escassa ultimamente. Que, em meses, só recebi "boa tarde" numa única vez de um cobrador de ônibus.
Estamos nos acostumando a ser cada vez mais frios. Percebem? Parece até deseducado ser educado, se pararmos para pensar, já que há essa acomodação com o silêncio.
Parei de dar bom dia, boa tarde, boa noite ou seja lá o que for, de tantos vácuos em que me abriguei em corredores de prédios da zona sul da cidade. As pessoas simplesmente passam, escutam e vão embora, sem dar ouvidos.
Sei lá o que é isso. Sei lá por que isso.
Sei que nunca haverá evolução humana enquanto formos geladeiras ambulantes, ocos internos em semblantes adoráveis. Aí é ser robô e objeto fácil de manipulação e, para mim, isso não é condição de vida. É prato cheio pra aristocrata atento que mantêm-se no poder.


Para ouvir: Todos Estão Mudos (Pitty)
Para ler: Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley. Li há um tempo e hoje consigo conectar várias coisas do dia-a-dia com ele. Fantástico. :)

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