domingo, 11 de setembro de 2011

De vento em popa

        Impossível apagar o passado. Por mais que eu atire no lixo todos os papeis que estavam no fundo da gaveta, que jogue fora cadernos, os destrua, me livre das coisas que ele escreveu, o passado continua dentro de mim. Eu sou passado, sou produto dele. E como produto de um passado recente, sou presente me preparando para um futuro próximo. É um ciclo.
        Não posso abrir a boca pra dizer que o que vivi antes não teve pontos positivos. Digo que aprendi, e muito. Que me fez amadurecer e enxergar outras coisas, que fez com que eu fosse remoldada.
        Por mais que eu tente apagar tudo o que houve, nunca vou conseguir. Carrego na lembrança, no corpo, no que escrevi, no que disse, no que ouvi, na vida. Carrego na ponta dos dedos que seguraram firme a caneta ao despejar no papel a lama em que me chafurdava, os vícios em que me atolava.
        Agora fico leve, como o vento, fico leve. Não por total, mas bem mais leve que antes. É possível quase planar. Quase.
         Enquanto me livro, aos poucos, do peso que vinha carregando desnecessariamente nas costas, deixo levar, ir, voltar, ser, estar. Nada muito fixo ou pré-ordenado. Que seja.
        Que seja!

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Vida

        A vontade de explodir de tanto viver é maior que qualquer fome, desejo ou amor. Como tenho dito bastante nos últimos dias, a vida é linda. A vida existe simplesmente para se viver, arriscar, sentir, expurgar, inserir, absorver, emergir, molecular, criar, pensar, agir, desenhar minúscias. A vida é bem maior que qualquer angústia.
        Cansei de muita melancolia dentro de mim. Tanto cansei que lavei a alma até que não restasse quase nem sombra ou vestígio de tristeza qualquer que fosse. É saudável afogar-se na correnteza que é o curso da vida, mas não num pesadelo em preto e branco recheado de olhos tristes, filmes tristes, músicas tristes, abraços tristes, amores tristes, lembranças tristes.
         Saí do buraco negro em que eu achava que tristeza era sinônimo de beleza. Tudo tem o seu lado belo, mas raios de sol, companhias agradáveis e muito movimento são muito, mas muito mais bonitos que essa solidão inventada.
         Ainda gosto do bom caos, da instabilidade momentânea. Fazem parte do ciclo. Tanto quanto está inserida nesse meio toda a felicidade do mundo. Tanto quanto está inserida toda a felicidade do mundo em mim.
        Que sejam mais sorrisos felizes, mais palavras felizes, mais filmes, músicas, gritos, segredos, ligações, cartas, textos, olhares, mares, amores, milkshakes, ruas, chuvas, lágrimas, quedas, abraços, shows, beijos, vontades, ansiedades, luzes, sóis, luas e verdades felizes!
         Que seja tudo assim, bem feliz, bem vida.